16.11.15

MAGAZINE HD:CRÍTICA DO LEFFEST 2015:THE CHILDHOOD OF A LEADER É UM DOS FILMES MAIS INTERESSANTES E ESSENCIAIS DO ANO



The Childhood of a Leader, um dos filmes em competição no LEFFEST’15, é uma agressiva experiência cinemática e prova que o diretor estreante, Brady Corbet, não tem medo de alienar  seu espectador , ou mesmo de a atacar com a violência sensorial que consegue aqui construir.




O primeiro filme a ser assinado por Brady Corbet na condição de diretor inicia-se com uma montagem de imagens da Primeira Guerra Mundial, acompanhada de uma infernal música em um volume que é quase doloroso para os ouvidos do seu espectador. Aqui, Corbet imediatamente estabelece a sua extravagante abordagem estilística e temática, sendo The Childhood of a Leader um filme sem concessões autorais, que reconta a infância de um líder totalitarista fictício, no período do final da 1ª Guerra Mundial.

The Childhood of a Leader divide-se em três capítulos e um epílogo, com cada um dos segmentos principais sendo denominado como um ataque de cólera, num raro momento de humor negro da parte de Corbet. A narrativa, com exceção do seu aterrador epílogo, desenrola-se numa região dos arredores de Paris, durante os meses de edificação do Tratado de Versalhes. Envolvido neste monumental momento político está o pai (Liam Cunningham) do jovem protagonista, um diplomata americano a serviço do célebre presidente Wilson. É com sua mãe (Bérénice Bejo), no entanto, que Prescott (Tom Sweet), o protagonista, desenvolve a mais perigosa e antagônica relação familiar do filme. Mais que personagens humanas, The Childhood of a Leader é habitado por arquétipos e símbolos, como a matriarca, por exemplo, a revelar-se com uma multiplicidade de carga simbólica. Ela é alemã, imperiosamente aristocrata nas suas atitudes, uma fanática religiosa e uma visão em forma humana de um mundo antigo que ficou obsoleto depois deste primeiro conflito em uma escala mundial.


O roteiro, escrito por Corbet e Mona Fastvold, toma a sua inspiração de uma impressionante bibliografia de ilustres autores, sendo os textos de Sartre, nomeadamente o que dá o título ao filme, de especial relevância. Ao contrário da estruturação textual de Sartre, Corbet não se interessa por observar o desenvolvimento intelectual do seu ditador juvenil. Pelo contrário, o diretor foca o seu olhar na crescente violência que caracteriza cada um dos episódios de manipulação e agressão familiar, examinando, em simultâneo, o panorama político que encerrou este turbulento período histórico.

Um dos seus mais fascinantes aspectos é o modo como o filme lida com dois dos principais tipos de análise histórica da origem de regimes totalitaristas. Por um lado, é apresentada a narrativa do indivíduo monstruoso e influente, que acaba por se tornar o veículo para o desenvolvimento de uma horrenda ditadura, por outro lado, Corbet tem a sagacidade de olhar sobre as maquinações políticas que posicionaram o mundo no rumo trágico que iria inevitavelmente levar aos horrores que assolaram o resto do século XX. Desse modo, The Childhood of a Leader consegue evitar ser apenas uma simples versão de Temos de Falar sobre Kevin vestida com o fúnebre esplendor de uma Europa em luto.


Temos que louvar Corbet e a sua formidável equipe criativa pelo que  conseguem construir em termos formais. O mundo que morreu com a guerra e os seus interiores têm a beleza delapidada das mais elegantes ruínas da pintura romântica, enquanto a fotografia nos revela essas construções em *tableaus de surpreendente precisão e frieza. Mas é a sonoridade de The Childhood of a Leader que se coloca como o mais ousado dos seus elementos. A música de Scott Walker é como um picador de gelo  violentamente perfurando os ouvidos do público, desde a explosiva abertura até ao final, em que o diretor perde quaisquer noções de contenção e decide atacar o seu público com um pesadelo tornado filme. 


É precisamente nos seus ensandecidos momentos finais que são reveladas as maiores glórias e os maiores problemas de The Childhood of a Leader. O primeiro filme realizado por Brady Corbet peca e prima pela sua ambição desmesurada, conseguindo desenvolver uma impressionante visão das origens do mal, ao mesmo tempo que tem a infeliz tendência de se assemelhar a um tratado acadêmico. A experiência final é repetitiva e sem grandes complexidades na sua psicologia, ou inteligente sutileza. The Childhood of a Leader, no entanto, revela-se, não só como uma difícil experiência para o seu público, como também um dos filmes mais interessantes e essenciais do ano, em consequência da sua rara ambição, dos seus sucessos formais e até dos seus maiores fracassos. 







Nenhum comentário:

Postar um comentário